domingo, 18 de agosto de 2013

Ensaio: Sobre ser atriz e produtora


Carolina Garcia e Marcelo Aquino em Encantadores de Histórias (Grupo Caixa do Elefante - Porto Alegre)


Sobre tentar ser atriz e produtora.
Reflexões sobre a profissão do artista

Meu desejo não é ser produtora, mas percebo que muito do reconhecimento que tive enquanto atriz esteve ligado aos meus esforços enquanto produtora. Você me entende?

Primeiro, tive 04 anos de treinamento intenso e aprendizagem, onde não fazia teatro em si: não apresentava peças, mas treinava todo o dia das 9h30m da manhã até 10h da noite. Treinava Lecoq, acrobacia... Lia Grotowiski, Barba, pesquisadores brasileiros; via peças, participava do Porto Alegre Em Cena como espectadora e aluna. Fazia muitas oficinas, ensaiava os trabalhos dentro do DAD (Departamento de Arte Dramática da UFRGS), escutava os professores, escrevia sobre o processo...

Passado esse período, ao me formar em Artes Cênicas, precisava, queria atuar em espetáculos, ser atriz. Então corri atrás para colocar meu monólogo Confesso que Capitu na roda. Produzia, divulgava, continuava ensaiando e não parava de aprimorar o trabalho. Também dava aula de teatro para ganhar um troco e pagar as contas. Pois nem sempre a peça rendia grana. Mas tava na roda. A partir dessa peça, muitas pessoas me convidaram para atuar em outras peças, mas não ganhava dinheiro nenhum. Então comecei a vender mais a Capitu e o Teatro Empresarial que realmente me rendiam alguma coisa.

Não deixei de ser atriz em nenhum momento, mas durante muito tempo tinha medo de virar uma produtora. Até que vi uma grande atriz, Carol Garcia, quiçá a melhor de minha geração: canta, dança, sapateia, emociona, treina, é maravilhosa, e uma pessoa incrivelmente generosa, ganhar 02 prêmios: melhor atriz e melhor produtora, pelo trabalho "Os Encantadores de Histórias" e aquilo pra mim foi uma aprendizagem: ela não deixou de ser atriz ao assumir a produção da Cia Caixa de Elefante naquela peça, ela apenas passou a exercer duas funções com o mesmo brilho e competência com que atuava.

O tempo do ator é o tempo da verdade, o tempo da planta, você não faz uma árvore em 15 dias, o processo leva etapas. Você precisa construir a verdade, se apropriar de uma técnica, aprende aos poucos a se comunicar com o público. O tempo do ator é o tempo do empirismo, de todas as sensações ao mesmo tempo, o tempo do agora, nem antes nem depois.

Por outro lado, o tempo do produtor é sempre o amanhã: o próximo projeto, o próximo edital, o próximo material a enviar, o próximo contato a fazer. Às vezes, esse tempo se transforma em 05 minutos. 05 minutos para terminar tal projeto, ler tal edital, enviar material, etc. Se está quase sempre na corda bamba, se vai atrás de autorizações, se autentica declaração em cartório. É tanta coisa que não dá nem para acreditar! Por outro lado, o artista geralmente só trabalha quando o produtor chama. E o produtor não para de trabalhar nunca, está sempre “inventando” e “reinventado” seu trabalho. O ator também, mas a questão é que se não tiver a iniciativa, a busca, o “cavoucar” do produtor, nem sempre as coisas acontecem.

Foi isso que me levou a tentar trabalhar também com produção. Meu desafio agora é não “surtar” com o Alvará que demora, é entender que o Banco vai demorar a abrir a conta e que a internet pode falhar com os documentos em arquivo zip. Às vezes é acreditar que toda essa burocracia é para a cena. Porque a cena é mais importante, ela é o milagre, é por ela que estou fazendo isso tudo.

Espero ter força, sorte, disciplina e crescimento para lidar com isso, aprender a respirar dentro dessa situação. Pois quero seguir trabalhando como atriz com outras companhias e manter minhas produções.

Escrevi esse texto quando comecei a sentir a necessidade de me organizar melhor enquanto atriz e produtora.
                                                                            Elisa Lucas
 Porto Alegre, 7 de maio de 2010.




5 comentários:

  1. A gente processa e vive tantas informações e situações, e muitas vezes acaba não organizando uma forma de comunicar as experiências que estão no ENTRE de nós e da cena que fazemos. Essa mescla de funções artista e produtora evoca isso !

    Bom texto, Elisa !!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Viver é vencer desafios, minha amiga!!! E Cada vez que os superamos crescemos um pouco mais e o nível do próximo desafio será progressivamente maior...
    Hummmmmmmm, acho que a Vida é um videogame 🎮!!!! Hehehehe

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  4. Viver é vencer desafios, minha amiga!!! E Cada vez que os superamos crescemos um pouco mais e o nível do próximo desafio será progressivamente maior...
    Hummmmmmmm, acho que a Vida é um videogame 🎮!!!! Hehehehe

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